terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Manifestações x Guerras

Alguns meses atrás, no metrô, fiquei observando dois homens conversando.
Não eram brasileiros, mas falavam bem a nossa língua, como se morassem aqui ou praticassem há muito tempo. E em pouco tempo observando, pude constatar a primeira opção.
Eles falavam sobre as guerras no mundo, sobre as dificuldades das pessoas que vivem em países em guerra, sentindo medo o tempo todo, sendo privadas de sua liberdade, tendo de fazer de tudo para proteger seus filhos, encontrar comida, água potável...
Havia algo sobre esse ter sido um dos motivos de terem escolhido morar no Brasil. Diziam coisas sobre não haver guerra por aqui, as pessoas se respeitarem, e tal.
Poucos dias depois, começou a onda de manifestações no país. Eu, que raramente andava nas ruas - e, por consequência, não estava tão exposta aos efeitos dessas manifestações - senti medo. Muito medo. Medo e raiva daquilo tudo.
Mas não uma raiva centralizada, definida. Não era nada contra o "sistema" ou o chamado abuso por parte das pessoas. Tinha, sim, uma ponta de desprezo - e pena - pelos vândalos que se aproveitavam de um movimento como esse para depredar e fazer algazarra por ai, mas também não era isso. Era uma sensação de que nunca vamos saber onde estamos pisando. Nunca vamos nos sentir seguros totalmente.
Até ali, eu tinha medo de andar nas ruas a pé e ser assaltada numa cidade tão grande. Tinha medo de usar ônibus naquela cidade e enfrentar horas parada no trânsito. E, de repente, usando o metrô - achando mais rápido e seguro - sentia o terror que corria nas ruas, logo acima da minha cabeça.
Aqueles gringos, felizes por optar por um país onde não existem marcas dolorosas de guerra, devem ter sentido tanto medo quanto eu. Devem ter sentido tanta raiva e tanta insegurança quanto eu e outras centenas, milhares de pessoas. E também devem ter imaginado que nunca sabemos onde estamos pisando. Nunca vamos ter certeza de que as coisas não vão mudar de uma hora pra outra.
E ai, você deve estar pensando: "nem dá pra comparar essas manifestações com as guerras às quais esses caras se referiam."
Você tem razão, não dá mesmo.
Mas tudo começa do começo.

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