quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Sim, eu tenho preconceito

Eu sempre me orgulhei do fato de me considerar uma pessoa totalmente livre de preconceitos. Nunca entendi porque raios as pessoas tem que apresentar pessoas usando nome e pedigree, tipo: "aquele é fulano, ele trabalha comigo e é gay". Ou "tenho uma amiga negra, que é muito linda". 

De verdade, não enxergo diferença nenhuma, e acho uma tremenda de uma baboseira quando as pessoas usam essas denominações para mostrar como são descoladas e convivem com todas as diferenças.
Como se negros, gays, ateus, pobres não fossem gente como a gente, cagando pelo mesmo lugar e destinados ao mesmo buraco sete palmos abaixo da terra quando todo o espetáculo desse circo que chamamos de vida chega ao fim.

Mas tenho andado tão impaciente ultimamente que descobri que não sou tão livre de preconceitos assim. Pelo contrário, descobri que tenho um preconceito enorme com gente burra.
E antes que você pense que não gosto de gente que não teve oportunidade de estudar na vida, que mal sabe ler ou escrever, ou que não tem condições de acesso à educação, saiba que não é desse tipo de gente que estou falando. 

Gente burra é outra coisa.

É gente que prefere passar seu tempo lendo notícia trágica no jornal do dia, ou fofoca nas capas de revista das bancas, que decora todas essas histórias de vida alheia para contar por aí e não se dá nem ao trabalho de prestar atenção no que leu para, no mínimo, saber escrever corretamente.

Gente burra é gente que passa o dia inteiro conectado, vasculhando vidas em redes sociais, avaliando roupas da moda e compartilhando tudo o que encontra por aí, sem ao menos pensar em usar o Google para verificar se as palavras que colocou no comentário estão escritas corretamente.

É gente que convive com tudo quanto é tipo de gente, tem acesso a diferentes formas de se vestir ou se comportar, mas não lhe ocorre a mínima curiosidade de saber o que fica bem e o que não fica para determinada ocasião. E não estou falando de observar e seguir a risca o tal do dress code - até porque ele não ensina o que usar numa mesa de boteco no happy hour no fim da tarde -, mas de demonstrar uma preocupação, mesmo que mínima, com o que o lugar exige. Ou com quem está junto. E olha que eu não estou falando de moda, porque nem entendo nada disso e confesso que até erro muitas vezes. Mas tento sempre demonstrar que me preocupo em ser uma companhia agradável e, sim, a roupa demonstra grande parte disso. Ou alguém aí acha que é agradável ir ao teatro com a camisa do time do coração?

Gente burra é gente que passa dias, meses, anos reclamando da sua profissão, do chefe, do mercado, do salário, mas não levanta o traseiro do lugar para procurar outro emprego.

É gente que acha normal falar alto ao telefone, mascar chiclete de boca aberta, gritar na janela pro outro vizinho ouvir, soltar pum na frente das visitas, buzinar dentro do condomínio (seja a hora que for), arrastar os móveis a noite sem se importar com o vizinho do apartamento de baixo, comer desenfreadamente se importando apenas com a própria fome e não com as outras pessoas.

Burrice é não se importar. É não se preocupar com o outro. É achar que todo mundo tem que te engolir, e pronto.
Gente que não se importa com nada, não presta atenção em nada. E quem não presta atenção não aprende.
Gente que acha que tem ser o que é em qualquer lugar é uma das coisas mais deprimentes que existe. Você pode ser você mesmo e, mesmo assim, ter o mínimo cuidado em se adaptar aos lugares e situações.
Basta se importar. Basta se preocupar em ser uma companhia agradável, uma visita que as pessoas gostem de receber, alguém com quem as pessoas gostem de sair.
Observe, veja como as pessoas agem, ajuste o tom. 
Seja feliz como você sempre foi, mas sem precisar falar alto se perceber que as pessoas ao seu redor não falam.
Sinta-se a vontade com as roupas que gosta de usar. Isso quer dizer que você pode cuidar para não se sentir o patinho feio no meio de todo mundo.
Escreva coisas que as pessoas gostem de ler - e entendam.

Seja lembrado por acertar. Ou, pelo menos, por tentar acertar.