Ela nunca gostou de dormir de conchinha. Mas descobriu a
linha tênue que separa o cuidado do sufocamento, e agora ela ama.
Sempre achou exageradas as fotos e declarações de casais em
redes sociais, como se fossem dependentes um do outro para tudo. E ela odeia
dependência. Mas descobriu que, na verdade, acha fofo. Descobriu que, no fundo,
sentia certa inveja desses casais que exibiam uma felicidade que ela tanto
queria pra si.
Ela dizia que não queria se casar. Mas outro dia parou pra
pensar que já quis, e muito. Mas abafou o desejo por julgar que nunca
encontraria alguém que quisesse também. Ela não gosta de sofrer, e achou melhor
cortar as expectativas.
Ela ama declarações, frases encaixadinhas na hora exata,
palavras perfeitas ao final de um silêncio de olhos nos olhos. Mas nem sabia
que isso ainda existia.
Ela descobriu que não dói nada dividir o espacinho no
banheiro com outra toalha ou escova de dentes. Foi além, abriu caminho, e descobriu
que certas divisões multiplicam.
E de tanto descobrir, não vai parar mais.
Vai aprender a dividir o cobertor, o travesseiro, a vida, se
preciso for.
Vai abrir espaços nas gavetas que trancou (as do armário, e
do coração), porque sabe que, no fundo, nunca desistiu do amor. Só está
esperando o cara certo.