quarta-feira, 26 de março de 2014

Por que as pessoas se casam?

Vovó dizia que não queria se casar. Eu nunca entendi muito bem essa história – confesso que nunca tive talento para questionar, minha curiosidade sempre foi mais investigativa que questionadora, e investigações sempre são dificultadas pela minha preguiça – mas ela que, quando se deu conta, estava casada.

Minha avó teve sete filhos. Separou-se do meu avô bem antes de eu nascer, e contava como foi difícil criar minha mãe e os seis irmãos. Ela falava pouco, mas quando o assunto era casamento, não poupava palavras. Eu sempre a ouvia contar como seu casamento havia sido terrível, como meu a avô a havia deixado sozinha com toda a responsabilidade da casa e dos filhos, e por que eu não deveria me casar.

Um a um, minha avó enumerava os problemas de seu casamento: “ele não me ajudava com as despesas da casa”, “não ajudava a educar as crianças”, “era muito violento com os filhos”, “eu tinha que fazer tudo sozinha”. Não importava quantos problemas ela nos contasse, eles sempre eram de ordem material. Eu nunca a ouvi dizer que sentia falta de carinho, companhia e atenção. Do ponto de vista dela, casamento era uma união para as pessoas dividirem problemas.

Minha mãe também tem umas “considerações” nada simpáticas sobre o casamento. Ela e meu pai ainda vivem juntos – sobrevivem, eu diria – mas eu me lembro de ter presenciado muitos momentos românticos durante minha infância. Então eu sei que se casaram por escolha e, a seu modo, foram felizes. Mas quando ela fala sobre ele, sempre vejo os traços da minha avó. Minha mãe sempre reclama que meu pai não a leva para sair, não troca o botijão de gás quando, não conserta o vazamento da torneira, não dá um jeito nas infiltrações das paredes... e sempre completa com: “Não casem, meninas! Não sei porque eu casei.”

Apesar de tudo, fui uma adolescente muito romântica e sonhadora. Achava que quando encontrasse o homem da minha vida uma luz branca nos iluminaria como nos filmes e seríamos felizes para sempre, acordando abraçadinhos de manhã, e planejando juntos cada detalhe do dia. Ou seja, nada do que vovó dizia funcionava comigo. Mas os anos foram passando e me transformei completamente. Ainda sou romântica, mas meu romantismo é puramente reflexo do que recebo. Não sonho mais com uma casinha branca, cheia de flores na janela e cheirinho de café pela manhã. Crio expectativas todos os dias, mas quando anoitece eu penso na probabilidade de que elas se tornem realidade e qualquer avaliação abaixo de 80% me faz desistir. Não é pedir muito. É saber que posso escolher ser feliz.

Passei tantos anos tentando não ser como minha mãe e minha avó, que adotei um padrão de qualidade que tento seguir sempre. Nesse padrão, o cara não tem que atender minhas expectativas, mas tem que demonstrar o quanto está disposto a compartilhar comigo. Compartilhar qualquer coisa que vá além – muito além – do que mamãe e vovó consideravam que seria necessário num casamento. Eu me viro sozinha, me cuido sozinha, vou ao supermercado, conserto vazamentos, instalo chuveiros, monto móveis, troco o botijão de gás, pago minhas contas. Por isso, não procuro alguém complete, e não apenas satisfaça minhas necessidades cotidianas.

Quero alguém que me acompanhe, mas que também me leve pra sair.

Quero um cara que conserte a gaveta quebrada do armário, mas que ache um máximo chegar em casa e ver que consegui fazer isso sozinha porque vi primeiro.

Espero encontrar alguém que entenda que eu também trabalhei o dia todo e vou chegar em casa com fome, mas que valorize a forma como eu consigo dar conta de várias coisas ao mesmo tempo e também tente fazer várias coisas ao mesmo tempo.

Quero alguém que me convença a ficar na cama até tarde, no sábado, curtindo uma preguiça boa, mas que compartilhe comigo aquela faxina que não pode ficar para depois.

Quero alguém que saiba desorganizar minha vida, e organizar tudo de novo, só pra me mostrar que tudo pode ser lindo mesmo não sendo do jeito que eu faço.

Procuro um homem que me faça sentir que sou mulher, e não uma doméstica atarefada ou uma princesinha delicada.

Quero alguém que some, não que divida comigo.


E se um dia eu tiver que dizer aos meus filhos porque me casei, que seja porque encontrei esse alguém.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Quando você chegar

Venha devagar. Sou sensível.  Me assusto com paixões instantâneas. Não acredito na firmeza daquilo que não tem alicerces.

Me deixe saber que está chegando. Ou que há interesse em chegar.  Não costumo esperar muito por algo que não sei se vem.

Mantenha os pés no chão.  Você vai precisar,  para me puxar de volta.

Respeite meu espaço.  Gosto de dividir minhas coisas,  mas odeio a sensação de vê-las tiradas à força de mim.

Não seja disponível,  apenas acessível.  Me diga não,  quando precisar.
                                                           
Seja claro. Me diga o que sente, ou vou achar que você não sente. E não faça promessas que não tenha a intenção de cumprir.

Me deixe saber que você se importa comigo. Me dê a segurança de que não fui esquecida na correria dos seus dias.

Se sentir que te quero por perto, não me espere chamar.  Venha. Entre. Demonstre que mal consegue me esperar dar a volta na chave para um beijo de tirar o fôlego.  Fique tranquilo, se eu não quiser você vai saber.

Venha.  Simplesmente venha. Fique, se eu pedir (até porque só vou pedir se eu realmente quiser que você fique). Abuse dos momentos em que me encontrar desarmada.  E se imponha para baixar minha guarda, quando achar necessário.

Jogue seus sonhos na mesa. Se eu gostar,  vou juntar os pedaços e te ajudar a realizá-los.

Quando você chegar... Apenas chegue.
Faça acontecer.  Só assim você saberá se quero fazer valer a pena. E - acredite - se eu quiser, garanto que vai valer muito.