Até aquele momento, a vontade era voltar no tempo, pedir à
minha mãe que me colocasse de volta no berço, ou ao meu pai que me pegasse pela
mão e me ensinasse novamente os primeiros passos. Era tudo tão bonito e simples
naquela época, até o tempo passar e ir destruindo tudo.
É impressionante como nos deixamos machucar tanto, a ponto
de estar num lugar lindo e colorido, mas com o coração tão negro quanto nuvens
carregadas em dia de tempestade. E até chegar ali, era assim que eu me sentia.
O carro cortando a estrada, reduzindo em cada curva ou
acelerando ao máximo nas retas, só me fazia deixar pra trás essa coisa escura
que escorre da dor e do medo. Eu sentia o cheiro da vida se aproximando, e os
carros de trás atropelavam as pedras que eu ia tirando de dentro da alma e
jogando pra fora da janela.
O tempo passava devagar demais para quem só queria chegar e
enterrar na areia toda a podridão que tinha dentro do peito. Enfim, cheguei.
Encontrei a praia mais distante, com o mar mais profundo e joguei tudo lá.
Fiquei olhando atentamente, até ter certeza de que aquele barril de pólvora
havia afundado e nunca mais poderia explodir e machucar ninguém, nem a mim.
A última bolha sumiu. E os fogos acenderam no céu.
Feliz Ano Novo!
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